terça-feira, 6 de março de 2018


quando te der saudade de mim, e a poeira
assentar, quando o chá ficar pronto,
e o amor desadoecer, quando vires a caravela, que nos vem
salvar, ata esse poema ao lume, e deixa crepitar,
o nosso tempo há-de subir, para dizer das
palavras vindouras, a casa para os retratos, ventre
para as sementes, hora para as mãos, quando te
lembrares desse domingo, e o relógio parar, atrás
do que não importa, no ruído das coisas que nos
atrasam, atrás do tiquetaque da fome, como uma
sombra nítida, entre a cor e a música, quando
sumires de olhos abertos, cai no meu nome,
tropeça nesse tronco, e acorda comigo, outra vez.


  Gonçalves, Daniel. Buarquianas. Santa Maria dos Açores: Confraria do Vento, 2018, p 1.
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