quinta-feira, 19 de outubro de 2017



                Ruas de nébula


A Ilha dos Sonhos não existe,
diz a louca pitonisa,
inútil mapa em minhas mãos,
meus olhos sem saídas.

O véu lunar recolhe o tempo,
meu olhar distante e perdido.
Exília, o lugar que não há,
receptáculo de meus passos.
Ergo o rosto, vejo galáxias,
vagar, tempo e espaços.

Nasci em algum lugar,
afoguei-me entre represas.
Ilha encoberta,
fui arrastado pelos rios.

Meu rosto,
trilha de ravinas,
procura-se em vão nas águas adormecidas,
abraçadas a astros soberanos.

Estive em Arminda. Cá estou.
Incólume em Pompeia,
homem feito cinzas.
O Vesúvio, nada além de nostalgia.
Passos ressoam em ruas de nébula,
tudo apenas ruínas.

Fui visto em Andrômeda,
perdi-me no deserto,
adormeci em campanários.
Meus olhos não viram corpos nem almas
na explosão dos calendários.

Os dedos tocam a terra,
abrindo caminhos.
Minha cidade me espera
para ser povoada.
Sou apenas uma lenda,
ao nascer de uma coleção de nadas.


   Marino, Alexandre. Exília. São Paulo: Dobra Editorial, 2013, pp 54-55.
.
.
.