quinta-feira, 21 de setembro de 2017


      Ninho Frio


O pássaro voa ovante
Mas não tira a distância
A quem voa também:
Acho prumas no vento
(Quão facilmente a Lua!),
Um cristal me detém.

Oh, se fossem as coisas perdoadas
A quem tanto as amou cantando-as e dispondo-as:
Todo este meu pesar foi leve aos poetas mortos,
Mas custou muito a minha vida aos dois
Que ficaram nos portos
Como pombos
Vendo as naus e os seus rombos,
Só com um pouco de sal para depois
E de mim tendo apenas
(De dor como o direi?
Era o borracho...) as penas
Do voo que levantei.


 Nemésio, Vitorino. Obras Completas Vol. II - Poesia. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1989, p 45 (Prefácio, organização e fixação de texto de Fátima Freitas Morna).
.
.
.