sábado, 8 de outubro de 2016



                     "  Poema  "

tu que não cais nunca tudo
cai ao redor e talvez não
nos fira
tu que trazes em silêncio o
aroma das manhãs e o lume do fogo
sorvo-te as lavas mais espessas
estamos em bicos dos pés e é
tão pesado segurar-te as mãos
como a canção nos olhos é
quase madrugada
ó amado que me levantas a
saia até à nudez necessária e
ao centro de mim
lugar onde a escuridão
alumia
mas que esperas tu do corpo em
desacerto? o
poema é alérgico à voz
que sai de dentro de si tu
que não cais cai ao
redor
e talvez não nos fira nunca o
amor é uma doce queda ao
alto da montanha ó
amado que me levantas a
saia até à nudez necessária
ergue-me impura
para o teu chão
onde escondes a tua ausência
leva-me à janela do teu
nome
como a poesia
ao poema adentro


   Pedro, Mbate. Cintilações: Revista de Poesia e Ensaio Nº 1, setembro 2016. Fafe: Editora Labirinto, 2016, pp 75 - 76 (Coordenação de Victor Oliveira Mateus).
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