sábado, 23 de janeiro de 2016

 
    " tardam as sintaxes "

tudo está em aberto
. a porta para o quintal as árvores
que resgatam restos de memórias e
um quadrado de céu pintado a
cinzento e branco que se adivinha
para lá do muro. o melro quebra num
chilreio o silêncio da sílaba que se
atém dentro do poema. o jardim
aquieta-se e os vermes dividem-se
entre o rastejar e a creditação. é o fim
de Agosto e Setembro aproxima-se
. as horas escondem-se nas prateleiras
que forram as paredes da sala enquanto
o calor que veste os nossos ossos divide-
-se entre o caminhar ao encontro da
morte e o deixar-se embalar na ausência
das aves. há um espaço reservado à melancolia
como um escárnio vivido ou uma víbora
que esquecida espreita ao canto do terraço
e devagar levanta a cabeça pronta ao
desafio. tudo está em aberto -
ressalvo - enquanto fascinada deixo-me
conduzir ao encontro evidenciado do silêncio

  Martins, Gabriela Rocha. Artroses Nozes e Vozes (Com) Sentidas. Póvoa de Santa Iria: Lua de Marfim Editora, 2015, p 72 ( Prefácio de Victor Oliveira Mateus).
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