quarta-feira, 11 de novembro de 2015


Foto da representação - com assinalável sucesso - da peça Don Carlos de Schiller no Blue Elephant Theatre de Londres em 2011 (observe-se, em cima da mesa, o mapa de Espanha).


         CENA FINAL

(...)
ISABEL

Não façais caso das minhas lágrimas:
queria tanto não chorar neste momento,
mas não consigo, é mais forte que eu.
Mas quero dizer-vos isto: admiro-vos.

CARLOS

Fostes vós a confidente daquela amizade,
entre ele e mim: foi por meio dele
que pude aproximar-me de vós em Aranjuez;
foi por meio dele que agora estamos
de novo juntos, sós. Ele morreu;
eu venho aqui correndo perigo de vida.
Sereis sempre para mim a única mulher...

(entram, silenciosos, Rei, Inquisidor, Alba, Lerma, Domingo. Rei, Alba e Lerma de espadas empunhadas. Carlos e Isabel não se apercebem da presença dos intrusos)

Fujo agora de Espanha. Nunca mais verei
o meu pai. Odeio-o. Tudo o que por ele
eu sentia morreu. Perdeu o único filho.
Parto, então, para salvar o mundo
de tiranos como ele. Adeus!

(Carlos e Isabel beijam-se)

ISABEL

Carlos... que será de mim nesta Corte?
Eu que não posso aspirar a um heroísmo
como o teu e o de Rodrigo?
Mas volto a dizer: admiro-te.

(...)
( avançam rápidos Rei e fidalgos, de espadas apontadas para Carlos)

FILIPE (voz terrível)

É o último engano da tua vida!
(...)
Senhor Cardeal Inquisidor!
O meu dever está cumprido!
Cumpri agora o vosso.  

  
  Schiller, Friedrich. Don Carlos. Lisboa: Edições Cotovia, 2008, pp 166 - 168 (recriação poética de Frederico Lourenço).
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