sexta-feira, 6 de novembro de 2015


Christopher Marlowe (26/2/1564 - 30/5/1593) representou, juntamente com Shakespeare (-/4/1564 - 23/4/1616) e com Ben Jonson (11/6/1572 -  6/8/1637), o período áureo do teatro isabelino. Marlowe terá mesmo influenciado Shakespeare quer introduzindo o verso branco na estrutura das peças quer pela importância dada às figuras históricas enquanto tema central de várias peças. A sua morte está envolvida num certo mistério, já que Marlowe terá sido assassinado numa briga numa taberna, em 1593, com apenas 29 anos de idade, dando depois o caso origem à tese de que se tratou de um assassinato político devido ao facto de Marlowe ser um agente secreto ao serviço de Francis Walsingham (chefe da rede de espiões de Isabel I). Aliás, a própria vida de Marlowe será também ela marcada pelas célebres "teorias da conspiração", pois autores existem que defendem que a morte de Marlowe não foi devidamente comprovada, pelo que Shakespeare não será mais do que um pseudónimo que o autor teria depois adoptado. Enfim, acabaram surgindo teorias para todos os gostos...
"Eduardo II" tem um lugar importante na produção literária de Marlowe, sobretudo pela forma como ele alia a qualidade da escrita à cuidada narrativa do reinado em causa. A peça inicia-se com o regresso do exílio de Gaveston, o preferido do rei, e com o episódio em que o monarca cumula o amigo com cargos e benesses suscitando assim invejas e ódios de nobres e da própria rainha, Isabel de França. Após várias pressões e intrigas, Gaveston é de novo exilado da Corte, contudo, a rainha e aquele que viria a tornar-se o seu amante - Mortimer - bem como certos nobres decidem fazer regressar (de novo) Gaveston a Londres, onde se tornará mais fácil o seu assassinato. Facto que será concretizado com eficácia. Eduardo II, desesperado com esta perda, consegue executar dois dos assassinos, mas a conjura torna-se incontrolável e o rei acaba encarcerado, assumindo a rainha o poder, embora fortemente condicionada pela influencia de Mortimer. O despotismo de Mortimer e de Isabel de França torna-se insustentável levando mesmo ao assassinato do irmão do rei, Lord Kent, e do próprio Eduardo II barbaramente executado nas masmorras onde se encontrava. Isabel de França coloca no trono o filho que tivera de Eduardo II, um jovem com apenas 15 anos, mas pensando continuar a exercer o poder juntamente com o seu atual amante, todavia os seus planos não resultam: o novo rei, Eduardo III, ao saber do assassinato do pai, manda executar Mortimer e enclausura a mãe numa das suas residências onde esta ficará até à morte. O rigor e o realismo desta peça, o poder de análise de alguns mecanismos comportamentais e sociais, como o poder, a inveja, a ambição, etc. e a estupefacção perante o destino sumamente infeliz de um Eduardo II que decide trocar o reino, a família e a própria vida para poder ter Gaveston a seu lado, tornam esta obra um dos momentos altos da produção literária de Marlowe, bem como de todo o teatro isabelino.
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