sábado, 5 de setembro de 2015



   Penso às vezes que fazer romances é difícil... e de outras vezes que é fácil. Fácil, fácil? Quero eu dizer, acessível.
   Aqueles romances de psicologia muito construída, uns bons e outros maus, não me parecem realmente dificílimos de elaborar, mas não me tentam. São artes, regalos ou luxos do espírito. O que me tenta... Bom, será melhor deter-me aqui porque levaria longe o meu fio de ideia. Neste momento reconheço perfeitamente que não estou escrevendo um romance, ou aquilo a que vulgarmente se dá esse nome. Reconstruo e não invento. Investigo a minha vida passada, sacudo-a com curiosidade, e às circunstâncias que a acompanharam. Tudo isto para mim é tema que exploro com indizível e inclassificável interesse. Tudo esteve dormindo comigo longuíssimo tempo, à espera do minuto de despertar, para naturalmente se sumir depois para sempre...
   Como disse, não estou trabalhando uma ficção, estou a desfiar sedimentos e raízes; de uma vida ou de várias.


   Lisboa, Irene. Obras de Irene Lisboa, Volume III - começa uma vida. Lisboa: Editorial Presença, pp 74 - 75.
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