segunda-feira, 21 de setembro de 2015



"cuando yo te vuelva a ver
no habrá más penas ni olvido"
canta Reynaldo
ensaiando comigo
dois últimos passos de tango

há duas noites que não dormimos e
escorremos suor e acordes de bandonión
quando de manhã pedimos
as chaves no hotel

como agora     em que nos olhamos
ao espelho do elevador     e rimos
do nosso cabelo desgrenhado
colado à testa

"depois de velho é que
me deu para isto"     diz Reynaldo     repetindo
"no habrá más penas ni olvido"
enquanto nos vidros escorre uma chuva cinzenta que
nos levará amanhã a
pátrias diferentes

"ninguém é velho em Buenos Aires"
grita-nos     ofendido
o empregado da receção


   Vieira, Alice. Os armários da noite. Alfragide: Editorial Caminho, 2014, p 59.
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