segunda-feira, 17 de agosto de 2015





    " O que chegamos a entender "


No dia em que sabemos o que deixámos nesta terra,
invade-nos primeiro o desalento de tanto que não fizemos.
Depois consideramos a quem demos amor
e de quem o recebemos. Às vezes
surgem amigos do fundo da memória e dizem-nos
" sempre estivemos aqui" ;
e isso compensa-nos dos que julgávamos amigos e nos traíram,
com a naturalidade de quem também sempre ali esteve
para trair e não espera censuras,
porque essa foi a sua missão na terra.
De resto, trair e ser traído
são muitas vezes as duas faces de um mesmo rosto,
sereno e imutável
face à noite que cai.




   Mendes, Luís Filipe Castro. A misericórdia dos mercados. Porto: Assírio & Alvim, 2014, p 55.
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