sábado, 8 de agosto de 2015





(...)


És apenas o rapaz debruçando-se
sobre a manhã, sobre o inconsolável


de uma morte súbita, definindo
o reconhecível corpo sob o lençol


que segue a linha do seu fim,
que exige milimétrica






reserva, prestígio de mãos hábeis,
o nada da sua morada.


Ainda abrigas a dura contenda
das serpentes no deserto?


Vais tomando-te por pedra,
pedra afagada por devorações e usuras






sem medida ou conhecimento
ou palavras que as tome


na sua espelhada dureza,
macias frondes em pedra brunida pelo vento,


pela água, pela acção
devolvida de um tempo geológico






que excede a doce sílaba
conquistada pelo pensamento.


Arde hoje, amanhã gritarás,
depois serás simplesmente oco,


o homem oco, a cabeça mineral
de olhos cerrados




    Quintais, Luís. O Vidro. Porto: Assírio & Alvim, 2014, pp 42- 45.
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