domingo, 17 de maio de 2015

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XII 3

  Sentada, nem sibila nem cartomante, nem tão-pouco de futuro
inquieta, tece cêntimos no colo frouxo, meneando os dedos
qual seta. Sentada, entre universitários passantes que a olham
com desdém, estacionando seus carros topo de gama, larga os
olhos vítreos naquele pouco que tem como de um grande fogo
a parca chama. Sentada, a cega altera-me o rumo do livro, sem
que disso se aperceba, imprime-lhe agora uma pausa romântica
e chã, mas eu não me importo serei moderno (e metafísico)
amanhã. Os universitários é que se divertem: gozam-lhe os
cabelos desgrenhados, a bata já sem bolsos, os chanatos por um
fio, enquanto eu altero de novo o livro, reatualizo o poema e
mando-os para o negro que os pariu.


   Mateus. Victor Oliveira. Negro Marfim. Fafe: Editora Labirinto, 2015, p 25 (Prefácio: Miguel Real; Inventário de inquietações : Texto de Ronaldo Cagiano).
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