sexta-feira, 1 de maio de 2015




  " Santa Maria Madalena "  (1)


Não queiras que receba em
sofrimento. Não apareças nunca
nem me escolhas. É verdade
muitas vezes te procurei
quase sem conta
ao ardente entardecer desejei
teu lado.
Que tenho hoje para te oferecer?
O vento lá fora leva-te em
minha memória pelo escuro
penitente pl'abstracção da noite
antes de embarcares na remota
viagem.

À luz desta candeia
erra em recado o
fantasma
de onde vinha? Desde
o que se esconde e protege
na crueza do sexo -
  para o morrão da luz do
azeite me quiseste, vínculo que
estremece ao menor sopro
segreda verga o
junco na areia das dunas -
  a esta luz temo
a erva do verão que nasce
à minha porta.


(1) Óleo sobre cobre. Josefa de Óbidos. C. 1650



     Jorge, João Miguel Fernandes. Mirleos. Lisboa: Relógio D'Água, 2015, p 76.
.
.