terça-feira, 10 de março de 2015



Vai até Ele! Carta feliz!
Diz-Lhe _
Diz-Lhe da página que não escrevi _
Diz-Lhe _ que eu disse só Sintaxe _
Mas pus de lado o Verbo e o pronome _
Diz-Lhe como voavam os meus dedos _
Se arrastavam depois _ tão _ devagar _
Que desejavas ter olhos no papel _
Para veres o que os fazia mover _


Diz-Lhe _ que não foi Escritor Experiente _
Adivinhavas _ pela frase tão esforçada _
Ouvias o Corpete em luta, atrás de ti _
Como se segurasse de uma criança o querer _
Quase te comoveste _ tu _ com tal labor _
Diz-Lhe _ não _ aí podes fingir _
Pois o Seu Coração se partiria ao saber _
E a seguir tu e eu, ficámos mais caladas.


Diz-lhe _ do fim da Noite _ antes de terminarmos _
E o Relógio gritava e repetia "Dia" !
E tu - tão ensonada _ a implorar o fim _
O que faltava de falar _ então?
Diz-lhe _ como ela te selou _ Cuidando!
Mas _ se Ele perguntar onde te escondes
Até amanhã _ carta Feliz!
Gesto Coquette _ faz que Não !




   Dickinson, Emily. Duzentos Poemas. Lisboa: Relógio D'Água, 2014, p 105 (Tradução: Ana Luísa Amaral).
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