segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Ginsberg e Orlovsky: foto de 1962, na India.



    "  Nas traseiras do real  "


parque de locomotivas em San Jose
    desconsolado eu deambulava
frente a uma fábrica de tanques
    e sentei-me num banco
junto à baiuca do agulheiro.

Uma flor jazia no feno sobre
    a estrada asfaltada
- a assombrosa flor do feno
    pensei eu - tinha um
negro caule crestado e uma
    corola de espinhos sujos
amarelados como polegadas
    da coroa de Jesus e um tufo
de algodão seco e manchado
    no meio tal pincel de barba
usado que jazesse soterrado
    há um ano na garagem.

Amarela flor, amarela e
    flor da indústria,
dura flor aguçada e feia,
    e ainda assim flor,
com a forma da grande Rosa
    amarela dentro da cabeça!
É esta a flor do Mundo!


   Ginsberg, Allen. Uivo e Outros Poemas. Lisboa: Relógio D'Água Editores, 2014, 85 (Tradução e Notas de Margarida Vale de Gato).
.
.