quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Nota - A Batalha de Termópilas (agosto ou setembro de 480 a.c.) insere-se no contexto da Segunda Guerra Médica: os persas, comandados por Xerxes I, invadem a Grécia como resposta tardia à derrota que haviam sofrido na Batalha de Maratona. Agora as cidades gregas unem-se à volta de Leónidas I, rei de Esparta, e tentam suster a enormíssima vantagem que o exército persa traz, contudo, as gregos são traídos por um dos seus que indica a Xerxes a forma de contornar o desfiladeiro e apanhar o inimigo pela retaguarda. Derrotados, os gregos retiram-se com uma percentagem enorme de baixas, mas, após o exército recuperado, acabam por derrotar os persas no final desse mesmo ano na Batalha de Salamina e mais tarde na Batalha de Plateias.
Neste poema, o poeta dá-nos a rememoração de um sobrevivente da Batalha de Termópilas, batalha essa que passou a figurar no ocidente como símbolo da persistência, e da resistência, quando está em causa o solo pátrio. Enfim, temas bem atuais!
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    " A tarde límpida "

No desfiladeiro das Termópilas
vi, sobrevivente único da chacina,
como a História é só uma tarde límpida.
Pois era a tarde mais límpida que já víramos.
Os companheiros olhavam a nuvem esquecida,
não temiam;
observavam o vento tremulante
nas folhagens,
faziam planos para o dia seguinte
- que
        não haveria.

Ainda pude ver a nuvem desfazendo-se.

E, então, o estrépito.
A intensa fúria contra a fúria imensa.
Abatíamos e éramos abatidos.
E por certo ainda havia aquela nuvem
quando os ouvi dizer: Matamos todos.
Mas era noite quando abri os olhos
   e fugi.
Quarenta anos coxo, estropiado
em montes da Arcádia amiga.
Sobrevivi. E conto. Aquela
é que foi a minha vida: a
tarde
        límpida.


   Brasileiro, Antonio. Desta Varanda. Salvador: P55 Edições, 2011, p 11.
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