quinta-feira, 27 de novembro de 2014



Resumimos: estas ânsias anunciam pactos propícios.
Eis por que hemos insistido em discorrer de tal sorte.
Ah a memória é esse alvo desviado de deus -
coisa geral, coisa relativa, coisa dúbia,
mas coisa, decerto, paga com os exemplos e o tumulto,
porém, como ver, amanhã, o que, hoje, não pertence
nem a esse testemunho nem a esse grão
distribuído aos mendigos das nossas portas?
Vivemos desse crédito, sugere-se,
e esse dom de negar que ouvimos nem
a voz do que clama no deserto
e nos absolve
porque a confusão enche a nossa cabeça
e a longevidade, qualquer que seja o mundo,
é a nossa segunda obsessão,
e constatar que não somos explicáveis
ou lembrar que perecemos
provoca essa lágrima, a primeira
desde há muito tempo, de Anteu.
É esse tormento ou essa luz,
que divide ao meio a verdade,
que nos assiste para falar de predestinação?




   Vário, João. exemplos. Lisboa: Tinta-da-China, 2013, p 115.
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