domingo, 14 de setembro de 2014





Não te esqueças - dizia-me a minha mãe -
de estender os teus poemas na varanda:
fechados, ganham ferrugem e não soam muito bem aos ouvidos;
fechados, tilintam conforme metais impuros das metalurgias
e têm a cintilação embaciada de zebre das estrelas longínquas.
Fechadas, as palavras amolecem e pegam-se umas nas outras,
tornam-se difíceis de articular, enrolam-se na mecânica
das línguas.
Fechadas, em vez de leres liberdade lês obscuridade
e em vez de leres amor lês bolor.
Eu sei, mãe, eu sei.
As palavras querem-se ao sol.
A poesia quer-se ao vento.




   Assim, Paulo. Árvore Genealógica. Fafe: Editora Labirinto/ Núcleo de Artes e Letras, 2014, p 36.
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