segunda-feira, 8 de setembro de 2014





esperei a noite toda que viesses desfrutar o perfume das
palavras. ver como elas crescem e cheiram bem. e te
falam de mim. por entre o desequilíbrio de um texto
ébrio sem bermas. bem sei que não tenho seguro de
morte. nem livre trânsito para galgar assim terrenos
alheios. o despiste é garantido. mas a culpa é de ter
nascido numa noite de estrelas cadentes sem que um
desejo fosse invocado. por isso eu deambulo pelas
noites dentro. espio as estrelas. mendigo um desejo.
espero por ti. naquele canto mais escuro onde me
fustigas com a tua falta de sede. mas nenhuma noite é
bastante extensa. invariavelmente invade-me a vontade
de partir e mudar de terra.
um destes dias mudo as palavras de vaso.




  Quintela, Maria José. Pertence à água a escolha dos náufragos. Lisboa: Chiado Editora, 2014, p 35.
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