terça-feira, 15 de julho de 2014





Chegaste cedo chegaste logo ao princípio dos olhos
ainda nem manhãs havia nem estradas nem luzes nos frutos.


Eras como o primeiro vislumbre do sangue
num ouriço do mar. Uma natureza morta
de riso. A mão que vai do homem
até ao começo dos animais.


Ainda nem manhãs havia nem gente
que nos dissesse as horas e os lugares.
Era uma corrente de mar rupestre que pulsava.
Às vezes os sinos ainda fazem lembrar
o torvelinho que havia na saia
e os cabelos um pouco à toa
ermos como as passagens sem guarda.


Estava de grandes esperanças no teu corpo.
Um perto do outro cheirávamos a aves
com muita urgência.


Ainda nem manhãs havia nem havia palavras
mas para ti eu fabricava o silêncio
com todas as letras.




  Almeida, Catarina Nunes de. marsupial. Lisboa: Mariposa Azual, 2014, p 7.
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