quarta-feira, 26 de março de 2014



        "  Oferenda  "


Cumpro o que prometi:
Dou-te o melhor que tenho, versos.
Não queiras mais.
O resto
É o lastro reles da minha humanidade.
As doenças do corpo,
As misérias da alma
E o medo da morte,
Sujas negruras de que me envergonho.
Tudo, porém, é limpo e luminoso
Quando o sol radioso
Da poesia
Me visita.
E são esses instantes que deponho
No teu altar.
Instantes em que sonho
Que és a deusa capaz de me salvar.


  Torga, Miguel. Poesia Completa. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2000, p 927.
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